sexta-feira, 5 de junho de 2015

O QUE YHVH NOS DEIXOU? ELE NOS DEIXOU A: "MARAVILHA DAS MARAVILHAS"! A SUA PALAVRA VIVA...! VEJA E REFLITA MUITO SOBRE ESSE PEQUENO EXEMPLO DE COMO ESTUDAR SUA PALAVRA? VEJA:


Do livro: MANUAL DE ESCATOLOGIA (j. Dwight Pentecost):

Capítulo 3.

CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A INTERPRETAÇÃO!

A história da interpretação mostra-nos que a adoção do método correto de interpretação não garante necessariamente conclusões corretas pelos usuários do método. O rabinismo, que usava o método literal, produziu várias opiniões e interpretações erradas pelo mau emprego desse método. Logo, é necessário definir alguns princípios de interpretação, mesmo depois de estabelecer o método correto, para que o método não seja mal-aplicado e não produza conclusões infundadas.

I.                   A Interpretação Das Palavras

Sabe-se sem dúvida que as palavras formam um meio de transmitir o pensamento. Toda exegese correta precisa, então, começar por uma interpretação das próprias palavras. Horne, em sua preciosa obra Introduction to the critical study and knowledge of the Holy Scriptures [introdução ao estudo critico e ao conhecimento das Sagradas Escrituras], fez um excelente resumo dos princípios a ser empregados na interpretação das palavras.

1.     Devemos verificar o usus loquendi, ou a noção vinculada a uma palavra pelas pessoas em geral, pelas quais a língua é falada agora ou o era antigamente, e sobretudo na relação especial a que essa noção está vinculada.

2.     O sentido aceito de uma palavra deve ser conservado a não ser que razões fortes e necessárias exijam que seja abandonado ou negligenciado.

3.     Quando uma palavra tem vários significados de uso comum, devemos selecionar o que melhor se encaixa na passagem em questão, o qual seja coerente com o caráter, com os sentimentos e com a situação conhecida do autor, de acordo também com as circunstâncias conhecidas sob as quais ele escreveu.

4.     Embora a força de certas palavras só possa ser extraída da etimologia, não podemos atribuir, no entanto, muita confiança a essa ciência freqüentemente incerta; isso porque o significado de uma palavra muitas vezes é bem diferente de seu significado comum.

5.     Devemos examinar e analisar cuidadosamente as diferenças entre palavras aparentemente sinônimas.

6.     Os epítetos introduzidos pelos escritores sagrados também devem ser avaliados e examinados cuidadosamente, já que todos eles têm força declarativa ou explicativa, ou servem para distinguir uma coisa da  outra, ou unem essas duas características.

7.     Termos gerais às vezes são usados em toda a sua extensão, e às vezes em sentido restrito, e ser entendidos de uma maneira ou de outra depende da extensão, do assunto, do contexto e das passagens paralelas.

8.     Com relação a qualquer passagem específica, o significado mais simples – ou o que se apresenta mais prontamente a um leitor atento e inteligente, que possua conhecimento aceitável – é com toda a probabilidade o sentido ou significado de fato.

9.     Já que a característica da interpretação é proporcionar na nossa própria língua o mesmo discurso que os autores sagrados escreveram originalmente em hebraico ou em grego, é evidente que nossa interpretação ou versão, para ser correta, não deve afirmar nem negar mais que os escritores do original afirmaram ou negaram ao escrever; conseqüentemente, devemos estar mais dispostos a extrair um significado da Bíblia do que acrescentar-lhe sentido

10.                        Antes de chegar a conclusões sobre o sentido de um texto, para provar algo por meio dele, devemos ter certeza de que tal sentido não contraria o raciocínio natural. (Thomas Hartwell Horne, Introduction to the critical study and knowledge of the Holy Scriptures, 1, 325-6).

Angus e Green suplementam Home dizendo:

As palavras das Escrituras devem ser analisadas pelo seu significado comum, a não ser que se demonstre que tal significado contrarie outras palavras da frase, o argumento ou contexto ou outras partes das Escrituras. Dos dois significados, o preferido é geralmente o mais evidente a compreensão dos ouvintes ou leitores originários da passagem inspirada, permitindo que as formas de pensamento prevaleçam na sua própria época, assim, como as expressões figuradas, tão comuns, que não constituem exceção á regra.

O verdadeiro significado de qualquer passagem das Escritures, então, não é cada sentido que a palavra contém, nem cada sentido verdadeiro em si, mas o que é proposto pelos escritores do original, ou mesmo pelo (Ruarh Ha’ kodesch) – ESPÍRITO = O SANTO. [Grifo meu], apesar de entendido imperfeitamente pelos próprios escritores.

As palavras devem ser interpretadas, então, no sentido usual, natural e literal.

II.                 A INTERPRETAÇÃO DO CONTEXTO

O segundo grande tópico de nosso exame deve ser o contexto em que a passagem está inserida. Há certas regras que guiarão a interpretação contextual. Horne as resume assim:

1.     [...] um exame cuidadoso das partes anteriores e posteriores nos possibilitam apurar significado, seja literal, seja figurado, que melhor se adapte à passagem em questão.

2.     O contexto de um discurso ou livro das Escrituras pode compreender um versículo, alguns versículos, períodos, seções, capítulos inteiros ou todo o livro.

3.     Às vezes um livro das Escrituras compreende apenas um assunto ou argumento, caso em que todo o livro deve ser relacionado aos anteriores e aos posteriores e analisado conjuntamente com eles.

[,,,]

Ao examinar o contexto de uma passagem, será necessário:

1.     Investigar cada palavra de todas as passagens; e, à medida que a relação for formada pelas partículas, estas devem sempre receber o significado que o assunto e o contexto exigem.

2.     Examinar a passagem inteira com muita atenção.

3.     Não vincular um versículo ou passagem a um contexto remoto, a menos que concorde com ele de forma mais próxima.

4.     Procurar saber se o escritor continua seu discurso, evitando a suposição de que ele passou para outro argumento, quando, na verdade, esta dando seqüência ao mesmo assunto.

5.     Os parênteses que ocorrem nas Escrituras Sagradas devem ser analisados cuidadosamente, mas nenhum parêntese deve ser interposto sem razão suficiente.

6.     Nenhuma explicação deve ser admitida, a não ser a que se encaixe no contexto.

7.     Quando não se encontrar nenhuma relação com a parte anterior ou posterior de um livro, tal fato deve ser aceito.

(Joseph ANGUS & Samuel G. GREEN, The Bible handbook, p. 180.).

(Horne , op. cit. , I, , 336ss.)

III.              A INTERPRETAÇÃO HISTÓRICA

A terceira consideração sobre a interpretação deve ser a interpretação histórica, em que o contexto histórico imediato e sua influência são analisados cuidadosamente. Berkhof nos dá uma excelente síntese de considerações nessa fase de interpretação.

1)    Afirmações Básicas da Interpretação Histórica

(1) A Palavra de (‘Elohím YHVH – GRIFO MEU), originada de modo histórico, só pode ser entendida à luz da história. Isso não significa que tudo que ela contém possa ser explicado historicamente. Como revelação sobrenatural de (‘Elohím – GRIFO MEU), é natural que contenha elementos que transcendem  os limites do histórico. Mas significa que o conteúdo da Bíblia é em grande extensão determinado historicamente e, portanto, na história encontra a sua explicação.

(2) Uma palavra nunca é compreendida completamente até que se possa entendê-la como palavra viva, isto é, originada da nefesch – grifo meu. (Alma) do autor. Isso implica a necessidade da interpretação psicológica, que é, de fato, uma subdivisão da interpretação histórica.

(3) É impossível entender um autor e interpretar corretamente suas palavras sem que ele seja visto à luz de suas circunstâncias históricas. É emeth – grifo meu (verdade) que o homem, em certo sentido, controla as circunstâncias de sua vida e determina seu caráter, mas é igualmente verdadeiro que ele é, em grande escala, o produto do seu ambiente histórico. Por exemplo, ele é filho de seu povo, de sua terra e de sua época.

(4) O lugar, o tempo, as circunstâncias e as concepções prevalecentes do mundo e da vida em geral naturalmente emprestam cores aos escritos produzidos sob essas condições de tempo, lugar e circunstâncias. Isso se aplica também aos livros da Bíblia, particularmente aos que são de caráter histórico. Em todas as linhas literárias não há livro que se iguale à Bíblia no que ela diz sobre a vida em todos os seus aspectos.

(5) O Que Se Exige do Exegeta. Em vista do que foi dito, a interpretação histórica exige do exegeta:

A.    Que procure conhecer o autor que deseja interpretar, seu parentesco, sem caráter e temperamento, suas características morais, intelectuais e religiosas, bem como as circunstâncias externas de sua vida.

B.    Que reconstrua, tanto quanto possível a partir dos dados históricos disponíveis e com o auxílio de hipóteses, as circunstâncias em que esses escritos se originaram; em outras palavras, deve conhecer o mundo do autor. Deve informar-se a respeito dos aspectos físicos da terra em que os livros foram escritos, e considerar o caráter e a história, os costumes, a moral e a religião do povo no meio do qual foram escritos.

C.     É de fundamental importância que considere as várias influências que determinaram mais diretamente o caráter dos escritos que se considera, tais como, os leitores originais, o propósito que o autor tinha em mente, a idade do autor, seu tipo de mente, e as circunstâncias especiais em que escreveu seu livro.

D.    Além do mais, deve transportar-se mentalmente ao primeiro século A.D., e às condições orientais. Deve colocar-se na posição do autor, e procurar entrar em sua nefesch (grifo meu) alma até que seja capaz de viver sua vida e pensar seus pensamentos. Isso significa que ele deve guardar-se do erro de querer transferir o autor para os dias presentes e fazê-lo a linguagem do século vinte... (Louis BERKHOF, Princípios de interpretação bíblica, p. 120-1.). (Charles ELLIOTT & W.J. HARSHA, Biblical hermeneutics, p, 73.). (Milton S. TERRY hermeneutics, p. 203-4.).

IV A INTERPRETAÇÃO GRAMATICAL

A quarta consideração sobre a interpretação deve ser a interpretação gramatical da língua em que a passagem foi originariamente escrita. Isso, é claro, não pode ser feito sem o conhecimento das línguas originais. Elliott e Harsha, traduzido Cellerier, declaram a regra básica:

O interprete deve começar seu trabalho pelo estudo do sentido gramatical do texto, com o auxílio da filologia sagrada. Como em todos os outros escritos, o sentido gramatical deve ser o ponto de partida. O significado das palavras deve ser apurado tendo em vista o uso lingüístico e a conexão.

Terry acrescenta:

“Interpretação gramatical e interpretação histórica, quando entendidas corretamente”, diz Davidson, “são sinônimas. As leis especiais da gramática, segundo as quais os escritores sagrados aplicaram a língua, resultaram de circunstâncias específicas; somente a história nos leva de volta a essas circunstâncias. Não foi criada uma nova linguagem para os autores das Escrituras; eles se adaptaram à língua do país e da época. Suas composições não teriam sido inteligíveis de outra maneira. Tomaram o usus loquendi como o encontraram, modificando-o, naturalmente, pelas relações internas e externas em meio às quais pensavam e trabalhavam”. O mesmo escritor também observa: “O sentido histórico-gramatical é composto pela aplicação das considerações históricas e gramaticais. O grande objetivo a ser verificado é o usus loquendi, usando a lei ou os princípios da gramática universal que formam a base de toda língua (...) É o usus loquendi dos autores inspirados que forma o objeto dos princípios gramaticais reconhecidos e seguidos pelo expositor (...) chegamos a um conhecimento do usus loquendi específico pela via da investigação histórica...”.

Terry descreve bem a metodologia e a intenção do método histórico-gramatical. Ele diz:

... podemos citar o histórico-gramatical como o método mais recomendado ao julgamento e à consciência dos estudiosos cristãos. Seu princípio fundamental é extrair das próprias Escrituras o significado preciso que os escritores queriam transmitir. Ele aplica aos livros sagrados o mesmo princípio, o mesmo processo gramatical e exercício de bom senso e de raciocínio que aplicamos a outros livros. O exegeta histórico-gramatical, munido de qualificações intelectuais, de instrução e morais adequadas, aceitará as afirmações da Bíblia (eu diria: Das Escrituras – grifo meu) sem preconceito ou favoritismo adverso e, sem ambição de provar que sejam verdadeiras ou falsas, investigará a linguagem e o significado de cada livro com independência destemida. Ele aprenderá o linguajar do escritor, o dialeto específico que ele usou, e seu estilo e modo peculiar de expressão. Ele pesquisará as circunstâncias sob as quais o autor escreveu, os modos e costumes de sua época e o propósito ou objetivo que ele tinha em mente. O exegeta tem o direito de supor que nenhum autor sensato seria propositadamente incoerente consigo mesmo, nem buscaria surpreender ou enganar seus leitores. (Ibid., p. 173). (ANGUS & GREEN, op. Cit., p. 215).

V. A INTERPRETAÇÃO DA LINGUAGEM FIGURADA

Um grande problema que o intérprete enfrenta é a interpretação da linguagem figurada. Como as passagens proféticas frequentemente usam a linguagem figurada, essa forma de comunicação deve ser estudada com cuidado.

A. O uso da linguagem figurada. Sabe-se em geral que a linguagem figurada é usada tanto para embelezar uma língua quanto para transmitir idéias abstratas por meio de transferência.

É uma necessidade do intelecto humano que fatos ligados à mente ou à verdade espiritual se revistam de linguagem emprestada de coisas  materiais. A. Palavras exclusivamente espirituais ou abstratas, não podemos impor nenhuma concepção definida.

E (‘elohím – grifo meu) se digna a atender a nossa necessidade. Ele nos leva a um novo conhecimento por meio daquilo que já nos é conhecido. Ele Se revela de forma já conhecidas.

B. Quando a linguagem é literal ou figurada? O primeiro problema que o intérprete enfrenta é saber se a linguagem é literal ou figurada. As implicações são expostas por Horne: Então, para entender completamente a linguagem figurada das Escrituras, é requisito, em primeiro lugar, procurar saber o que realmente é figurado, para não considerar literal o que é figurado, o que faziam muitas vezes os discípulos do nosso Senhor (YHVH – grifo meu) e os (Yahudim – grifo meu) judeus, e para não perverter o significado literal com uma interpretação figurada; e, em segundo lugar, quando apurarmos o que realmente é figurado, interpretar isso corretamente e apresentar seu sentido verdadeiro. (HORNE, op. cit., I, 356.). (Clinton LOCKHART, Principles of interpretation, p. 49. (Ibid., p. 156). (Floyd HAMILTON, The basis of millennial faith, p. 53-4).

Uma regra simples para distinguir o literal do figurado é dada por Lockhart, que diz: Se o significado literal de alguma palavra ou expressão faz sentido em suas associações, é literal, mas, se o significado literal não faz sentido, é figurado.

Mais adiante o mesmo autor acrescenta: Já que o literal é o significado mais comum de uma palavra e ocorre, portanto, mais frequentemente que o figurado, qualquer termo será considerado literal até que haja boa razão para uma compreensão diferente (...). O significado literal e mais comum da palavra, se coerente, deve ser preferido ao significado figurado ou menos comum.

Assim, o intérprete procederá com base na pressuposição do que a palavra é literal e menos que haja boa razão para concluir o contrário. Hamilton, que defende o uso da interpretação alegórica na profecia, confirma a mesma conjectura.

- Uma boa regra para seguir é aquela em que a interpretação literal da profecia deve ser aceita, a não ser que a) as passagens contenham linguagem obviamente figurada, ou b) o Novo Testamento autorize a interpretação em outro sentido além do literal, ou c) uma interpretação literal contradiga verdades, princípios ou afirmações reais contidas em livros não-simbólicos do Novo Testamento. Outra regra clara é que as passagens mais claras do Novo Testamento em livros não simbólicos são a norma para a interpretação profética, em lugar de revelações obscuras e parciais contidas no Antigo Testamento. Em outras palavras, devemos aceitar as partes claras e simples das Escrituras como base para extrair o significado das mais difíceis.

Geralmente será bastante inconfundível quando a linguagem for figurada. Fairbaim diz:

... deve-se notar que, na grande maioria dos casos em que a linguagem é figurada, esse fato aparece na própria natureza da linguagem ou da relação na qual ela se encontra. Outro tipo de passagens em que a metáfora é também, em grande parte, fácil de detectar é quando predomina a chamada sinédoque. (PATRICK FAIRBAIRN, Hermeneutical manual, p. 138.). (Ibd.). (ELLIOTT & HARSHA, op. cit., p. 144-5).

O mesmo autor continua anunciando princípios pelos quais podemos saber se uma passagem é literal ou figurada. Ele diz:

O primeiro deles é que a linguagem é figurada quando se diz algo que, considerado ao pé da letra, muda a natureza essencial do assunto mencionado. Um segundo princípio aplicável a tais casos é que, se a linguagem considerada literalmente contiver algo incongruente ou meramente impróprio, o sentido figurado, e não o literal deve ser o correto. Uma terceira direção pode ser acrescentada: quando ainda temos razão para duvidar se a linguagem é literal ou figurada, devemos procurar solucionar a dúvida consultando passagens paralelas (se houver) que tratem do mesmo assunto em termos mais explícitos ou mais extensos. (PATRICK FAIRBAIRN, Hermeneutical manual, p. 138.). (Ibid.). (ELLIOTT & HARSHA. Op. cit., p. 144-5.).

Para solucionar esse problema, Cellerier escreve:

Essa investigação não pode ser alcançada com sucesso unicamente pela ciência intelectual. Sensatez e boa fé, percepção crítica e imparcialidade também são necessárias. Algumas indicações gerais são tudo o que pode ser dado em relação a isso. A) A priori. É grande a probabilidade de que a linguagem seja figurada nas passagens poéticas ou nos provérbios e também nos discursos oratórios e populares. Em geral essa probabilidade aumenta quando se supõe justamente que o escritor tenha sido induzido pela situação, assunto ou objetivo a fazer uso de tal linguagem. Há uma probabilidade do mesmo tipo, mas muito mais forte, quando a passagem examinada é animada e parece fazer alusão a objetos de outra natureza. B) A posteriori. Há uma probabilidade ainda maior quando o sentido literal seria absurdo (...). Todas essas probabilidades, no entanto, ainda são insuficientes. É necessário examinar a passagem com muito cuidado, de modo crítico, exegético e fiel. O sentido figurado deve ser apoiado por todos esses processos antes de poder ser tornado como a verdadeira interpretação.

(Grifo meu: Por isso, a Palavra da ‘ESCRITURA SAGRADA’, deve sempre se auto-interpretar = falar!).

Todo o problema de diferenciar a linguagem figurada da literal foi bem resumido por Terry, que comenta:

Raramente é necessário e, até mesmo, pouco praticável, estabelecer regras específicas para saber quando a linguagem é usada de modo figurado ou literal. Um princípio hermenêutico antigo e muito repetido é que as palavras devem ser entendidas no seu sentido literal, a não ser que tal interpretação implique uma contradição manifesta ou um absurdo. Devemos observar, no entanto, que esse princípio, quando reduzido à prática, torna-se simplesmente recurso à razão de cada homem. E o que para um parece absurdo e improvável pode ser para outro muito simples e coerente (...). Deve haver referência ao caráter e ao estilo geral do livro em causa, ao plano e ao propósito do autor e ao contexto e à extensão da passagem em tese. Atenção especial deve ser dada ao uso dos escritores sagrados, como determinado pela comparação de todas as passagens paralelas. Os mesmos princípios gerais pelos quais apuramos o sentido histórico-gramatical aplicam-se também à interpretação da linguagem figurada, e jamais devemos esquecer que os trechos figurados da Bíblia são tão certos e verdadeiros quanto os capítulos mais comuns. Metáforas, alegorias, parábolas e simbologias são formas divinamente escolhidas para expressar os oráculos de (‘elohím) – grifo meu, e não devemos achar que seus significados sejam tão vagos e incertos que não mereçam ser descobertos. Em geral, cremos que as partes figuradas das Escrituras não são tão difíceis de entender quanto muitos imaginam. Por meio de uma discriminação cuidadosa e judiciosa, o intérprete deve procurar identificar o caráter e significado de cada figura específica e explicá-la em harmonia com as leis comuns da linguagem e com os antecedentes, a extensão e o plano do autor. (TERRY, op. cit., p. 159-60.). (David L. COOPER, The God of Israel, p. iii.).

Cooper formulou uma regra para sabermos quando interpretar literal ou figuradamente. Ele diz:

Quando o sentido normal das Escrituras faz sentido, não busque outro; assim, considere cada palavra em seu significado primário, normal, comum e literal, a não ser que os fatos do contexto imediato, estudado à luz de passagens relacionadas e verdades estabelecidas e fundamentais, indiquem claramente o contrário.

Esse pode muito bem tornar-se o axioma do intérprete.

C. A interpretação da linguagem figurada. O segundo problema decorrente do uso da linguagem figurada é o método a ser usado para interpretar o figurado.

Devemos observar desde o princípio que o propósito da linguagem figurada é oferecer alguma verdade literal, que pode ser transmitida pelo uso de metáforas mais claramente que de qualquer outra maneira. O sentido literal é de maior importância que as palavras literais. Chafer afirma isso:

O sentido literal das palavras empregadas numa metáfora não deve ser entendido como o significado da metáfora, mas sim como o sentido pretendido pelo uso da metáfora. Em todas essas ocorrências há, então, apenas um significado. Em tais casos o literal não é o sentido. Em relação a isso Cellerier diz: “A revelação (...) está carregada de formas populares fortemente influenciadas por hábitos do Oriente, ou seja, de formas metafóricas, poéticas e parabólicas que transmitem significado diferente do sentido literal das palavras. Mas mesmo assim não há dois significados, o literal e o metafórico. Apenas o metafórico é o significado real; o literal não existe como significado, ele somente é o veículo do anterior; não contém em si nenhum resultado, nenhuma verdade. Há, portanto, apenas um significado verdadeiro (Ma. D’Hermen., p. 41). (Rollin, E CHAFER, the science of biblical hermeneutics,p. 80-1.).

Horme arrolou uma extensa lista de regras para apurar corretamente o significado implícito de qualquer metáfora:

1. O significado literal das palavras deve ser conservado, mais nos livros históricos das Escrituras que nos poéticos.

2. O significado literal das palavras deve ser desprezado, caso seja impróprio ou implique uma impossibilidade, ou quando palavras, tomadas pelo sentido estrito, contenham algo contrário aos preceitos doutrinários ou morais transmitidos em outras partes das Escrituras.

3. Devemos inquirir em que sentido a coisa comparada e aquilo a que ela é comparada concordam respectivamente, e também em que sentido elas têm alguma afinidade ou semelhança.

a) O significado de uma passagem figurada será conhecido se a semelhança entre as coisas ou os objetos comparados for tão clara que seja percebida imediatamente.

b) Já que, nas metáforas sagradas, certa proposição geralmente é a principal coisa exibida, o significado de uma metáfora será ilustrado pela análise do conhecimento de uma passagem na qual ela ocorre.

c) O significado de uma expressão figurada geralmente é conhecido com base em sua explicação pelo próprio escritor sagrado.

d) O significado de uma expressão figurada pode ser apurado pela consulta de passagens paralelas, nas quais a mesma coisa é expressa de forma correta e literal, ou na qual a mesma palavra ocorre, e assim o significado pode ser prontamente extraído.

e) Analisar a história.

f) Analisar a conexão da doutrina, assim como o contexto da passagem figurada.

g) Ao especificar o significado transmitido por uma metáfora, a comparação jamais pode ser estendida em demasia, ou a qualquer coisa que não possa ser aplicada corretamente à pessoa ou à coisa representada.

h) Na interpretação das expressões figuradas em geral, e naquelas que ocorrem particularmente nos trechos morais das Escrituras, o significado de tais expressões deve ser regulado por aquelas que são simples e claras.

4. Por último, ao explicar a linguagem figurada das Escrituras, é preciso ter cuidado para não usar a aplicação de códigos modernos, pois os habitantes do Oriente muitas vezes associam a ideias certos atributos expressos de maneira totalmente diversa da que normalmente ocorre a nossa mente. (HORNE, op., cit., i, 356-8).

Observamos com base nessas regras que os mesmos princípios fundamentais aplicados a qualquer outra linguagem se aplicam também à interpretação da linguagem figurada. O uso da linguagem figurada não exige interpretação não-literal. A mesma sã exegese exigida em outros lugares se faz mister nessa área.

(Do livro: MANUAL DE ESCATOLOGIA. “UMA ANÁLISE DETALHADA DOS EVENTOS FUTUROS”. EDITORA: VIDA. PÁGINAS: 62 – HÁ – 72.).

 


OS DESAFIOS DE UMA TRADUÇÃO DA BÍBLIA:

 

BÍBLIA DE ESTUDO NVI (ISBN: 978-85-7367762-1). EDITORA: VIDA.

 

BÍBLIA HEBRAICA PESHITA (TORAH) EDIÇÃO 2011. (ISBN: 383.265 LIVRO 711 FOLHAS: 425).

 

VAMOS COMEÇAR PELA PESHITA: PÁGINAS: 35-36:

 

Tradução de Almeida:

 

Coube ao Padre João Ferreira de Almeida a grandiosa tarefa de traduzir pela primeira vez para o português o Antigo e o Novo Testamento, Nascido em 1628 em Torre de Tavares, nas proximidades de Lisboa, João Ferreira de Almeida, quando tinha doze anos de idade, mudou-se para o sudeste da Ásia. Após viver dois anos na Batávia (atual Jacarta), na ilha de Java, Indonésia, Almeida partiu para Málaca, na Malásia, e lá, através da leitura de um folheto em espanhol acerca das diferenças da cristandade, converteu-se do catolicismo à fé evangélica. No ano seguinte começou a pregar o evangelho no Ceilão e em muitos pontos da costa de Malabar.

Não tinha ele ainda dezessete anos de idade quando iniciou o trabalho de tradução da Bíblia para o português, mas lamentavelmente ele perdeu o seu manuscrito e teve de reiniciar a tradução em 1648.

Por conhecer o hebraico e grego, Almeida pôde utilizar-se dos manuscritos dessas línguas, calcando sua tradução no chamado “Textus Receptus” do grupo bizantino. Durante esse exaustivo e criterioso trabalho, ele também se serviu das traduções holandesa, francesa (tradução de Beza), italiana, espanhola e latina (Vulgata).

Em 1676, João Ferreira de Almeida concluiu a tradução do Novo Testamento, e naquele mesmo ano remeteu o manuscrito para ser impresso na Batávia; todavia, o lento trabalho de revisão a que a tradução foi submetida levou Almeida a retoma-la e envia-la para ser impressa em Amsterdã, Holanda. Finalmente, em 1681 surgiu o primeiro Novo Testamento em português, trazendo no frontispício os seguintes dizeres, que transcrevemos ipsis litteris: “O Novo Testamento, isto he, Todos os Sacro Sanctos Livros e Escritos Evangélicos e Apostólicos do Novo concerto de Nosso Fiel Salvador e Redentor Iesu Cristo, agora traduzido em português por Padre João Ferreira de Almeida, ministro pregador do Sancto Evangelho. Com todas as licenças necessárias. Em Amsterdam, por Víuva de J.V. Someren. Anno 1681.

Milhares de erros foram detectados nesse Novo Testamento de Almeida, muitos deles produzidos pela comissão de eruditos que tentou harmonizar o texto português com a tradução holandesa de 1637. O próprio Almeida identificou mais de 2000 (dois mil) erros nessa tradução, e outro revisor, Ribeiro dos Santos afirmou ter encontrado um número muito maior.

Logo após a publicação do Novo Testamento, Almeida iniciou a tradução do antigo, e ao falecer, em 6 de agosto de 1691, ele havia traduzido até Ezequiel 41,21. Em 1748, o pastor Jacobus op den Akker, de Batávia, reiniciou o trabalho interrompido por Almeida, e cinco anos depois, em 1753, foi impressa a primeira Bíblia completa em português, em dois volumes. Estava, portanto concluído o inestimável trabalho de tradução da Bíblia por João Ferreira de Almeida.

Apesar dos erros iniciais, ao longo dos anos eruditos evangélicos têm depurado a obra de Almeida, tornado-a a preferida dos leitores de fala portuguesa.

 

A Bíblia de Rahmeyer.

 

Tradução completa da Bíblia, ainda hoje inédita, traduzida em meados do século XVIII pelo comerciante hamburguês Pedro Rahmeyer, que residiu em Lisboa durante 30 anos. O manuscrito dessa Bíblia se encontra  na Biblioteca do Senado de Hamburgo, Alemanha.

 

Tradução de Figueiredo:

 

Nascido em 1725, em Tomar, nas proximidades de Lisboa, o padre Antônio Pereira de Figueiredo, partindo da Vulgata Latina, traduziu integralmente o Novo Testamento, gastando dezoito anos nessa laboriosa tarefa. A primeira edição do Novo Testamento saiu em 1778, em seis volumes.Quanto ao Antigo, os dezessete volumes de sua primeira edição foram publicados de 1783 a 1790. Em 1819 veio à luz da Bíblia completa de Figueiredo, em sete volumes, e em 1821 ela foi publicada pela primeira vez em um volume único.

Figueiredo incluiu em sua tradução os chamados livros apócrifos que o Conselho de Trento havia acrescentado aos livros canônicos em 8 de abril de 1546. Esse fato tem contribuído para que sua Bíblia seja ainda hoje apreciada pelos católicos romanos nos países de fala portuguesa.

Na condição de exímio filólogo e latinista, Figueiredo pôde utilizar-se de um estilo sublime e grandiloquente, e seu trabalho resultou em um verdadeiro monumento da prosa portuguesa. Porém, por não conhecer as línguas originais e ter-se baseado tão-somente na Vulgata, sua tradução tem suplantado em preferência popular o texto de Almeida.

 

Ok! Agora, vamos passar ao estudo da NVI:

 

A maioria das pessoas, cristãs ou não, tem pouco conhecimento das dificuldades presentes na tradução da Bíblia. Quem lê a Palavra de Deus bem impressa, bonita e com uma capa bem acabada não tem ideia de tudo que é necessário para tornar disponível o livro mais lido e vendido do mundo.

Antes de tratarmos dessas dificuldades, devemos destacar que a tarefa de tradução da Bíblia é um ministério cristão. Lamentavelmente, poucos são os cristãos que percebem tal realidade de imediato. A grande verdade é que não é possível desenvolver quase nenhum outro ministério cristão sem as Escrituras Sagradas traduzidas na língua do povo. Não seria possível pregar, evangelizar, ensinar, discipular, e assim por diante, sem a Palavra de Deus em nossa língua. Por essa razão, devemos dar graças a Deus pela vida de homens como Jerônimo, Ulfilas, Lutero, Wycliffe, Almeida e muitos outros tradutores da Bíblia. Homens como esses dedicaram a vida para tornar compreensíveis as Escrituras a milhões de cristãos e não-cristãos incapazes de entender as línguas originais.

Além disso, precisamos ressaltar que a tarefa de traduzir a Bíblia não é nada fácil. Muitos são os problemas e dificuldades enfrentados pelos tradutores. Com toda a certeza, para muitas pessoas essa tarefa parece até muito simples. Tal opinião, porém, está longe da verdade! Acreditam alguns que cada palavra do hebraico ou do grego encontra um vocábulo equivalente em português (e nos demais idiomas). Portanto, bastaria trocar as palavras da língua original pelos vocábulos em português para vermos encerrada a tarefa de tradução da Bíblia. Quem sabe, pensam alguns, um bom programa de computador até possa fazer isso. Infelizmente, isso não é verdade; o fato é que a tarefa de tradução é muito complexa. Nas linhas a seguir, procuraremos apresentar ao nosso prezado leitor os principais problemas e dificuldades enfrentados por um tradutor das Escrituras Sagradas.

 

A dificuldade com os manuscritos antigos

 

Ao contrário do que muitos imaginam, não existe um manuscrito bíblico único do qual se possa traduzir o texto das Escrituras. Deus, em sua soberania, não quis deixar-nos o manuscrito original do Antigo e do Novo Testamento. Na verdade, o que temos à disposição são milhares de manuscritos posteriores, cópias feitas por escribas no decorrer dos séculos. Apesar disso, estamos absolutamente seguros de que a Bíblia é o documento antigo mais bem preservado da história da humanidade. Não há dúvida alguma de que possuímos manuscritos extremamente próximos dos originais. Todavia, um grande número de pequenas diferenças entre os diversos manuscritos exige avaliação cuidadosa por parte dos estudiosos para que se obtenha um texto mais próximo do original. Quando isso acontece, é necessário buscar a ajuda da crítica textual, ciência que desenvolveu critérios objetivos e científicos de avaliação do texto bíblico. Com base nos resultados desses estudos criteriosos, é possível optar corretamente por uma variante textual. Portanto, todo tradutor da Bíblia tem com primeiro problema avaliar as variantes textuais dos manuscritos bíblicos e tomar decisões com base nessa avaliação. Somente após esse primeiro passo será possível fazer uma tradução fiel ao texto original.

No caso do Antigo Testamento, escrito quase inteiramente em língua hebraica, os principais manuscritos que precisam ser avaliados para uma boa tradução bíblica são o Texto masorético, o Pentateuco samaritano, a Septuaginta (famosa versão grega do texto do Antigo Testamento), a Versão siríaca, os Targuns aramaicos e os famosos manuscritos do mar Morto. Já no caso do Novo Testamento, há centenas de papiros antigos, alguns códices (cópias completas) e milhares de manuscritos mais recentes. O resultado do trabalho da crítica textual mais confiável e respeitado pelo mundo acadêmico encontra-se nas edições da Bíblia hebraica stuttgartensia (Antigo Testamento e no Novum Testamentum graece (organizado por E. Nestlé e K. Aland).

 

A dificuldade da compreensão do texto

 

Os autores do texto bíblico e os escribas que fizeram as milhares de cópias dos manuscritos bíblicos antigos viviam num mundo muito diferente do nosso. Falavam línguas (hebraico, aramaico e o grego) que ainda procuramos compreender, pertenciam a uma cultura muito diferente da nossa e não redigiam textos conforme a nossa atual expectativa. Por essa razão, nem todos os textos bíblicos são tão fáceis de ser entendidos, nem mesmo pelos peritos e especialistas nas línguas originais. Às vezes a construção da frase não segue a lógica gramatical comum da língua; em outras ocasiões ficamos em dúvida sobre onde dividir a frase (a pontuação do texto grego do Novo Testamento, por exemplo, não faz parte do original); em certas passagens bíblicas há palavras difíceis de ser compreendidas, pois o significado primeiro delas não cabe no contexto. Isso quer dizer que, mesmo depois de estabelecido o texto pelos especialistas, isto é, com todos os problemas de crítica textual resolvidos, nem sempre todos os textos bíblicos serão decifrados e entendidos com facilidade. É por isso que o leitor comum muitas vezes já constatou que alguns textos bíblicos encontram traduções diversas em diferentes versões bíblicas. Embora nem todos saibam, a verdade é que vários textos bíblicos admitem mais de uma tradução correta e, em muitos casos, alguns deles exigem atenção especial e um trabalho cuidadoso para serem de fato compreendidos.

 

A dificuldade do significado das palavras

 

Ha uma ciência dedicada ao estudo do significado das palavras. Essa ciência é chamadasemântica. As principais fontes de pesquisa semântica são os dicionários e os léxicos acadêmicos aos quais recorremos quando queremos saber o significado de um termo. Isso não é tão difícil quando estamos pesquisando o significado de termos falados atualmente na língua portuguesa. No entanto, quando queremos descobrir o significado das palavras hebraicas, aramaicas e gregas, a tarefa é muito mais árdua. O significado exato de muitas palavras, principalmente hebraicas, ainda é um desafio para os estudiosos.

Talvez a ideia mais comum seja que a etimologia e a melhor forma de descobrir o significado das palavras. Muita gente acredita que o significado de uma palavra está na sua raiz, na sua ideia original. Em muitos casos isso é verdade. Na palavra cefaloide, por exemplo, é fácil estender o significado com base na etimologia. A primeira parte da palavra, cefal-, vem do grego kephalê, que significa “cabeça”; já o sufixo –óide expressa a ideia de forma. Assim, cefaloide significa o que tem forma de cabeça. Nesse caso, a etimologia da palavra permite-nos saber com exatidão o seu significado. Nem sempre, porém, tais associações etimológicas evidenciam o significado de determinado termo. Há casos como o da palavra hipopótamo, na qual os radicais gregos significam literal e etimologicamente “cavalo” (hipos) e “rio” (potamos). No entanto, ninguém jamais concordará que “cavalo do rio” traduz com exatidão o significado de hipopótamo. Finalmente, descobriremos também palavras cuja etimologia até destoa no significado mais comum delas. É o caso da palavra embarque. Na origem, o termo era usado em referência ao ato de entrar em um barco. Todavia, hoje o termo é usado em referência ao embarque em um avião, ao embarque em um trem (ou no metrô).

Diante desses exemplos, deve ficar claro que identificar o significado de uma palavra requer mais do que descobrir sua origem ou sua etimologia. Na verdade, cumpre levar em consideração a importância de outros fatores fundamentais, como veremos adiante.

 

O fator sociológico

 

O uso de uma palavra é determinado pelos falantes de uma língua. Na verdade, as palavras não têm nenhuma relação intrínseca com os objetos da realidade. Funcionam como etiquetas que nós, os falantes da língua, colocamos nos objetos à nossa volta para podermos nos referir a eles. Assim, cada língua cria as próprias palavras de modo arbitrário. Além disso, essas palavras são muitas vezes criadas, independentemente da origem etimológica. Por essa Razão, para que se entenda o significado de um termo, é muito importante descobrir em que sentido está sendo usado dentro de um texto, pois muitas vezes a origem ou a raiz não serão úteis na identificação do significado. O vocábulo grego logos, por exemplo, significava principalmente palavra quando traduzia um conceito semítico do mundo hebreu, mas para os gregos a ideia básica era a de razão. O tradutor do Novo Testamento terá de descobrir em que sentido o autor bíblico (Jo 1,1) estava usando a palavra logos. Graças ao trabalho de exegetas e linguistas, hoje temos léxicos (dicionários) que trazem uma avaliação semântica ampla e detalhada de cada termo hebraico, aramaico e grego. Um léxico especializado é uma das ferramentas indispensáveis para a compreensão e para a tradução dos termos bíblicos.

 

O fator histórico

 

O aspecto sociológico da semântica leva-nos diretamente ao aspecto histórico. O uso das palavras bem como o seu significado sofrem variações de acordo com a época em que o texto Fo escrito. No caso dos estudos veterotestamentários, os especialistas fazem distinção entre as diversas fases da língua hebraica: o hebraico arcaico, o pré-exílico e o pós-exílico. A verdade é que há diferença de vários séculos entre um texto e outro. Diante desse fato, não há dúvida de que a mesma palavra pode ter significados diferentes em épocas distintas.

No caso do Novo Testamento, apesar de todo o texto ter sido escrito em grego, sabemos hoje que não era o grego clássico (dialeto ático). Não é possível compreender o significado dos termos gregos do Novo Testamento conhecendo apenas a cultura e a língua helênica clássica. Além de ser um grego comum (coiné), o grego neotestamentário é também um grego semitizado, ou seja, muito influenciado pela cultura judaica e pelo pensamento hebraico. Somente com o conhecimento da história da cultura e das línguas bíblicas poderemos conhecer o significado das palavras da Bíblia. Isso nos ajudará a não conferir a esses termos um significado não pretendido pelo autor original

 

O fator literário

 

Um estudo aprofundado das Escrituras comprovará que não podemos considerar o texto bíblico homogêneo do ponto de vista literário. Cada autor usa certos termos de maneira característica. Nem sempre a mesma palavra é usada no mesmo sentido por todos os autores. Cada autor bíblico escreve com tendências teológicas específicas, a um público determinado, dentro de um panorama histórico particular. Uma avaliação da terminologia usada por Lucas, por João e porPaulo mostra que cada um deles detém particularidades linguísticas e teológicas que precisam ser consideradas numa tradução bíblica. Além disso, é preciso frisar que os diversos autores bíblicos escreveram em estilos literários distintos. A poesia hebraica, por exemplo, não se caracteriza por rima, mas sim por paralelismos. Há construções poéticas como inversões, quiasmos, acrósticos alfabéticos, aliterações etc., que dificilmente podem ser de todo recuperadas numa tradução. Além disso, temos o problema das expressões idiomáticas e das figuras de linguagem. Metáforas, símiles, sinédoques, metonímias são usadas amplamente na Bíblia. Algumas dessas figuras, se traduzidas ao pé da letra, podem não comunicar nada ou até expressar uma ideia errada. Pretendemos desenvolver essa questão com maiores detalhes mais adiante. Todavia, vale a pena citar aqui alguns exemplos.

Em Gênesis 34,30 o hebraico diz:

E disse Jacó a Simeão e a Levi: Vocês me trouxeram problemas, ao fazer-me cheirar mal entre os moradores da terra.

Cheirar mal é uma expressão que significa odiar. O sentido aqui é atrair o ódio dos moradores da terra (região).

Em Salmos 41,9 o hebraico diz:

Até o meu melhor amigo (homem da minha paz), em quem eu confiava e que partilhava do meu pão, levantou contra mim o seu calcanhar.

O significado de levantar o calcanhar contra é voltar-se contra.

 

A dificuldade decorrente da peculiaridade das línguas bíblicas

 

Quando alguém tentar traduzir um livro do francês ou do inglês para o português encontrará uma tarefa não muito difícil. As três línguas são indo-européias, sendo muito semelhantes em estrutura e em vocabulário. Até mesmo no inglês, pertencente ao ramo das línguas germânicas, cerca de metade do vocabulário é formado por palavras de origem latina. Quando alguém lê uma obra acadêmica em inglês, por exemplo, descobrirá que essa proporção é ainda maior, pois os termos gregos e latinos são a base do vocabulário científico e acadêmico de muitas línguas européias , mesmo de muitas que não são classificadas como neolatinas. Todavia, quando se faz uma tradução do grego bíblico e do hebraico (ou do aramaico) para o português, a tarefa é muito mais difícil, pois a diferença cultural e linguística é muito grande.

O início das dificuldades reside no vocabulário das línguas bíblicas. Os vocábulos muitas vezes não têm correspondentes satisfatórios em português. O campo semântico das palavras é muito particular e até mesmo estranho para nós.

Especialmente no caso do hebraico, as palavras dessa língua semítica expressam conceitos bem concretos. Ideias abstratas são muito raras. A expressão “fazer uma aliança”, por exemplo, é literalmente em hebraico “cortar uma aliança”. Por essa razão é impossível fazer uma tradução totalmente literal da Bíblia. Muitas frases não teriam sentido em português. Uma das palavras muito importantes do Antigo Testamento, por exemplo, é o termo Sheol, traduzido por Hades no grego do Novo Testamento. Em algumas versões antigas essa palavra foi traduzida por “inferno” em quase todos os versículos em que o termo aparece. Sem dúvida alguma a tradução uniforme do termo não é recomendável. O termo refere-se de fato ao “mundo dos mortos” e, em muitos contextos, refere-se de modo concreto à “sepultura”. Assim Sheol (e Hades) pode ser traduzido, dependendo do contexto, por várias palavras diferentes. As possibilidades de tradução são:“profundezas”, “morte”, “sepultura”, “mundo dos mortos” e “inferno”.

No caso do hebraico, uma característica interessante da língua é a sua concisão. A antiga língua dos hebreus usava poucas palavras para dizer muito. Os verbos de ligação são dispensados, os pronomes pessoais estão embutidos na maioria das formas verbais, e algumas preposições e sufixos de posse aparecem anexados aos substantivos. Um exemplo disso pode ser visto emSalmos 15,2. O texto hebraico diz literalmente (sete palavras):

Andante integramente e praticante (da) justiça e falante (da) verdade no seu coração.

Como se vê, é muito difícil entender o sentido do texto, traduzido aqui bem literalmente.Depois de traduzido adequadamente (19 palavras em português), o texto fica assim:

Aquele que é integro em sua conduta e pratica o que é justo, que de coração fala a verdade...

Outra questão que merece cuidado é o verbo grego e hebraico. Estamos muito acostumados à ideia de tempo verbal em português. Para muitos é surpreendente descobrir que o que caracteriza o verbo no grego e no hebraico não é principalmente o tempo do verbo, mas sim o seu aspecto. Em hebraico, por exemplo, importa mais se a ação é acabada ou não do que o tempo do verbo.Em muitas passagens bíblicas somente o contexto determinará se o verbo será traduzido no futuro, no presente ou no passado. O grego conhece formas verbais peculiares e muitas vezes difíceis de ser traduzidas adequadamente. Entre elas destacam-se o aoristo, o modo optativo e a voz média do verbo.

Finalmente, precisamos destacar a grande diferença entre a estrutura sintática das línguas bíblicas e a do português. A ordem comum da frase hebraica, por exemplo, é inversa: começa com o verbo e depois traz o sujeito. As conjunções que intermediam palavras e orações detêm funções sintáticas muito diversificadas e podem ser traduzidas de maneiras distintas. Os tradutores terão de descobrir se determina conjunção está sendo usada de modo enfático, explicativo, condicional, recitativo etc. Essa tarefa muitas vezes exige estudo minucioso. O texto grego, por exemplo, usa períodos longos, sem ponto-final. Um caso famoso é o do texto de Efésios 1,3-14.Não é possível conservar a legibilidade de um texto assim em português contemporâneo sem reorganizar a pontuação. Dado o caráter introdutório desse livro, não nos estenderemos mais sobre o assunto. Somente um estudo da sintaxe hebraica e grega poderá revelar a complexidade dessas diferenças ao amigo leitor.

 

Conclusão

 

Diante dessa avaliação, cremos que o nosso leitor já tem uma ideia razoável da complexidade da tarefa de traduzir a Bíblia. Estamos certos de que essa breve introdução o ajudará a entender o valor e a importância da tradução da Bíblia. Portanto, cada um de nós deve:

1. Agradecer a ‘elohîm (grifo meu) pelo fato de termos sua Palavra disponível em português.

2. Valorizar esse importante ministério e orar pelos milhares de tradutores que trabalham em todo o mundo nessa obra tão importante.

3. Ser mais flexíveis e humildes, entendendo que a dificuldade dessa tarefa comprova que toda tradução é imperfeita.

4. Descobrir que as dificuldades bíblicas não devem abalar nossa emunah (fé) grifo meu; ao contrário, descobrimos que ‘elohîm (grifo meu) é sábio e maior do que nós. A Palavra de ‘elohîm (grifo meu) é mais profunda e rica do que imaginamos.

 

LUIZ SAYÃO

 

Linguista, mestre em hebraico (USP), editor acadêmico de Edições Vida Nova e coordenador da tradução da NVI.

Vamos ver esse exemplo na língua original:

ΚΑΤΑ ΜΑΡΚΟΝ

9

24 ευθυς κραξας ο πατηρ του παιδιου ελεγεν πιστευω βοηθει μου τη απιστια[1]

 

Vamos ver a tradução dessa passagem pela Bíblia (Novo Testamento Interlinear) [Grego português]: Editora – SBB:

Marcos:

9

24: Logo gritando o pai do menino dizia: Creio; ajuda minha falta de fé.

 

Estudo feito por:

 

Pesquisa efetuada por: ANSELMO ESTEVAN.

Formação: Curso bíblico “igreja Adventista do Sétimo Dia”. Friburgo. 22 de Janeiro de 2.004. Duração de 5 meses.

Formação: (Pela Faculdade Ibetel – centro de Suzano): “Curso Básico em Teologia”. [Aproximadamente 2 anos]. Término do curso em 07 de Agosto de 2.007.

Formação: (Pela Faculdade Ibetel – centro de Suzano): “Curso Bacharel em Teologia”. [Aproximadamente 3 anos]. Término do curso em 08 de Julho de 2.010.

 

FILIADO À: OTPB – Ordem de Teólogos e Pastores do Brasil.

 

Registro nº436.07.08/2013. (Pr. Flávio Nunes. Souza).

 





 

[1] Novo Testamento Grego: Westcott-Hort (1881). Sociedade Bíblica do Brasil, 1881; 2007, S. Mc 9:24

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